O grande número de concursos públicos espalhados pelo país, as diferentes faixas salariais e, acima de tudo, a estabilidade têm levado a administração pública brasileira a sentir uma tendência que já atinge as empresas privadas: a rotatividade de funcionários.
Em Brasília, apelidada de capital dos concursos, a situação é percebida com mais força por causa da grande oferta de vagas e da concentração de órgãos da administração direta, mais suscetível a essa migração de servidores à procura do cargo ideal.
De acordo com dados do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, nos últimos cinco anos, houve 148,7 mil ingressos e 10 mil saídas por posse em outro cargo, o que significa uma rotatividade de 6,7% nos cargos públicos do Poder Executivo Federal. O índice é considerado baixo para o ministério.
Segundo o professor do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), Francisco Antonio Coelho Junior, o índice de 6,7% calculado pelo Ministério do Planejamento, apesar de baixo, precisa ser visto com cautela, uma vez que o órgão inclui apenas os cargos públicos do Poder Executivo Federal, o que representa uma restrição muito grande do universo de servidores. “Os funcionários públicos apresentam, hoje, um novo perfil, que contribui para o aumento da rotatividade na administração pública. Na maioria das vezes, eles chegam ao órgão público com preparação que vai muito além da necessária para exercer as atribuições e responsabilidades do cargo”, explica o professor.
Para Francisco, não é difícil encontrar profissionais com nível superior exercendo funções de nível médio, por causa do maior número de vagas oferecidas e também da remuneração. “É preciso ser levado em consideração, tanto pelos candidatos quanto pelo contratante, o chamado perfil profissiográfico. Trata-se do alinhamento do perfil das competências do ocupante com aquelas requeridas para exercer o cargo”, pontuou o professor.
As possíveis soluções para a rotatividade, apontadas pelo especialista, passam pelo candidato. De acordo com Francisco, o candidato precisa saber o que vai fazer depois de passar no concurso. “Por vezes, pela questão constitucional da isonomia, só se premia quem estuda e não aqueles que apresentam perfil para o cargo. A avaliação cognitiva de aprendizado de certos conteúdos desconsidera as características da vaga”, destaca Francisco Coelho. Para ele, a avaliação psicológica deve ser incluída em alguns certames para sanar este problema.
Por fim o professor acredita que é preciso trabalhar nas estratégias de gestão do desempenho e de desenvolvimento de competências que garantam a manutenção desse servidor. “Os gestores das organizações públicas precisam atuar na promoção de um ambiente de trabalho que provoque a manutenção desse servidor. A remuneração é muito importante, mas, por si só, não é fonte de motivação. É como se o servidor, além do contrato de trabalho, passasse a estabelecer um contrato psicológico com a organização”, finalizou ou especialista.
Fonte : CorreioWeb
Comentários
Postar um comentário