Um dia desses, encontrei-me com a mãe de uma aluna que me motivou a escrever esse artigo porque, talvez, essa senhora esteja enfrentando a mesma situação que muitas outras pessoas por aí. Vivemos em um país cercado de preconceito de todo tipo e, invariavelmente, a mulher costuma enfrentar alguns mais. Ser mãe, dona de casa, trabalhar fora e ainda estudar, meu Deus! Há quem ache o acúmulo de tantas tarefas, em pleno século XXI, um absurdo, sobretudo para uma mulher que beira os 60!
Mas, tal situação só tende a reforçar a auto-censura, aquela que ninguém, a não ser nós mesmos, acabamos nos impondo. A mãe dessa aluna tem 56 anos, foi criada em uma família extremamente tradicional, mas, como os tempos são outros e o dinheiro está mais curto do que nunca para ela, assim como para nós, milhares de brasileiros, decidiu voltar a estudar e fazer concurso público.
Uma das primeiras indagações dela foi se não estaria “velha” para a “façanha”. Ora, concurso, como eu venho dizendo ao longo de minha carreira nesse mercado, é a forma mais democrática de acessibilidade ao emprego público. Aqui, não são questionadas cor, idade, sexo. Naturalmente, há um limite de idade, o que não é o caso dela. Interpreto esse requisito da mesma forma como encaro a necessidade de idade mínima para tirar a carteira de habilitação ou a classificação etária de um filme no cinema.
O candidato sendo aprovado, ninguém vai perguntá-lo se é branco ou negro, homem ou mulher, se tem 20 ou 50 anos. Se você se encaixar nas regras do edital, como em relação à questão da escolaridade – e isso tem em qualquer emprego! -, não há o que temer.
Pois bem, voltando à mãe da aluna... Depois de uns 30 minutos de conversa, a fiz entender que o maior obstáculo para o retorno dela aos estudos poderia ser ela mesma! Ela, sim, apontava entraves que não existiam. Chegou a temer ser excluída de grupos de estudos, ou da própria classe que passaria a frequentar, ou até mesmo se sentir incapaz de aprender qualquer coisa que não fosse uma nova receita culinária.
A vida se apresenta em gotas, eu disse a ela. E creio que tenha surtido efeito nosso curto momento de reflexão. Hoje, para minha surpresa ela já está engrenadíssima nos estudos e, com uma organização surpreendente. Ela tem hora para tudo e todas as atividades delas, sejam pessoais ou relacionadas ao estudo, cabem em sua agenda. Contei essa história, de forma resumida, para mostrar que nossos maiores inimigos não são as disciplinas extensas, a falta de dinheiro para pagar um curso, a falta de tempo para estudar, enfim, a vida atribulada que levamos. Não, não são.
Precisamos, portanto, nos dedicar de forma apaixonada ao que fazemos e almejamos. Se for o desejo dela passar em um concurso público para ter uma aposentadoria digna e ajudar a família, só posso torcer para que tenha êxito e colaborar como profissional para isso. Para tanto, lá está ela, diariamente, olhos fixos no quadro enquanto o professor da hora já não fala mais uma ”língua” estranha, tudo já parece familiar. Agora, ela sabe que não há mais limites para a própria superação!
Gosto de recordar outros exemplos mais perto de mim, alunos que beiram os 60 anos de idade e que “se viram” para estudar com uma determinação tamanha que me faz sentir orgulho em conhecê-los.
Repito por mil vezes, se precisar, que sou uma grande entusiasta daqueles que venceram a si mesmo e, em pouco tempo, terão realizado o sonho que jamais ousou sonhar antes! Isso me leva a um questionamento: E por que não você também? Dificuldades todos nós temos. No entanto, valerá muito a pena superá-las. A recompensa será um futuro tranquilo, com um bom emprego, e a garantia da estabilidade, seja financeira, profissional ou psicológica.Esse pode ser o seu tempo de superação. Tente!
Bons estudos!
Fonte: Folha DIrigida
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